da tempestade (na vida)

apagar do telefone o número de alguém que morreu magoa. por vezes vamo-lo mantendo ali, passamos por ele de vez em quando, é hoje que apago, não ainda não consigo, e agarramo-nos a ele como se agarrássemos à vida quem nos faz falta.
ontem, num dia particularmente cinzento, a minha irmã ligou-me para me dizer que tinha morrido uma amiga dela. eram do mesmo curso e moravam no mesmo prédio. foi tão repentino quando assustador, perceber que uma miúda de vinte e poucos anos, saudável e praticante de desporto, pode apagar-se assim, do nada. não contive as lágrimas, que mais não eram do que um desespero por esta violência e esta injustiça e esta impotência perante alguma coisa que é maior do que nós.
é o segundo caso que conheço no espaço de um ano, em pessoas tão jovens. agora estás bem, a trocar mensagens com alguém, no momento seguinte já não existes. e só consigo pensar na dor daqueles pais, dos irmãos, dos amigos, dos colegas. por muito que seja o mais certo que temos, nada nos prepara para a morte. seja ela em que contexto for.

Comentários

Frida Kahlo disse…
Nunca os consegui apagar. Vou mantendo-os no telemovel, numa tentativa estupida de me enganar
Enjoy the Ride disse…
é cruel e violento fazê-lo. mas necessário, como parte do luto.