Crónica à la MEC

"A minha geração, que, evidentemente, não é a minha geração mas duas ou três centenas de pessoas a que sigo os passos, é composta por sprinters sentimentais. 
Amamos muito e depressa, perdemos o fôlego, chegamos a uma meta imaginária e ficamos ali a alguns metros, arfantes e desorientados, tentando ler no quadro dos tempos se chegámos em primeiro por um nariz.
Fizemos a nossa corrida, ponto. Não nos peçam mais, não sabemos, somos curtos de pernas e de ar. Descansamos uns dias e começamos a preparar-nos para outra, que há-de ser na Austrália ou Nova Iorque, que se chama Teresa, ou Marta ou Marilene, a gente sabe lá, é coisa de pernas e de manter o tempo.
Há tantas razões para o amor ser curto - cheirava mal dos cotovelos, não gostava de Woody Allen, cozinhava as ostras, gritava durante o sexo, não gritava durante o sexo. E uma só para o amor lento, que eu não conheço mas intuo, uma espécie de fé cega, um caminho que se esqueceu de chegar, um amor que às voltas prescinde da linha recta.
Nada sei de amores, mas sinto-me cansado. Falta-me às vezes um coração antigo, que bata ainda porque se esqueceu de parar. Quero um amor de fundo, com bandeirinhas pelo caminho – Vai, não pares, não pares nunca. Um traçado longo que o corpo guarde e doa. Um caminho que vá de um lugar a outro lugar".


Nuno Camarneiro, Prémio Leya 2012

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