da passagem do tempo

é incrível como o tempo consegue apaziguar-nos. nos momentos menos bons temos muitas vezes vontade de tapar os ouvidos ao cliché de que o tempo cura tudo. é verdade, nós sabemos, mas não queremos ouvir. queremos apenas que ele passe, de preferência depressa, para chegarmos finalmente ao dia em que podemos respirar de novo e aspirar à felicidade. 
ora, sem nos darmos conta, um dia o tempo passou. lembramo-nos de cada segundo, de cada minuto que vagarosamente teimava em arrastar-se. lembramo-nos de todas as vezes em que chorámos, em que tivemos insónias ou acordámos a meio da noite com pesadelos. lembramo-nos também de nos arrastarmos para fora de casa, para um jantar ou um café, por sabermos que o abraço dos amigos é o melhor conforto. lembramo-nos da dor que era sentir e não poder viver. lembramo-nos por ser recente, lembramo-nos porque durou uma eternidade. e devemos lembrar-nos sobretudo para manter por perto as boas recordações, que nos aquecem a alma e nos provam [a nós, só a nós] que somos capazes de superar o inimaginável, que somos mais fortes do que algum dia sonhámos ser. 
a vida reserva-nos as maiores surpresas [nem sempre as melhores], derruba-nos quando não esperamos, para que possamos encontrar forças e virar-nos do avesso para nos levantarmos. a vida prepara-nos para que possamos crescer, para nos fortalecermos, para sabermos amparar-nos na próxima queda. 
mas prepara-nos sobretudo para que saibamos reconhecer o melhor que ela tem: a capacidade de, num momento, sermos surpreendidos ao abrir os olhos e reconhecer que o (nosso) mundo está cheio de possibilidades e é mesmo o melhor lugar para se viver.

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