15 again

aos 15 anos era maria-rapaz. tinha o cabelo muito curto, vestia camisas largas de flanela e jeans e calçava botas doc martens. aos 15 anos, mesmo sendo assim, surpreendentemente tive o meu primeiro namorado, o fã número 1 do Bryan Adams, que tocava guitarra e me acompanhava no caminho até casa, mas de quem tinha que me despedir umas ruas antes para os meus pais não descobrirem. aos 15 anos acho que queria ser pediatra, porque foi o que quis ser grande parte da minha adolescência. aos 15 anos tinha um grupo de amigos de que a minha mãe não gostava, porque todos fumavam. aos 15 anos ouvia grunge e rock da pesada (para a altura) e fechava-me muitas vezes no quarto, a curtir a minha adolescência em silêncio, revoltada com o mundo e em sofrimento profundo, porque ninguém me compreendia.
hoje, à distância, sei que detestei aquela fase. não era feliz, era apenas mais uma criatura atacada pela idade do armário. embora eu julgasse ter sido relativamente pacífica, há bem pouco tempo a minha mãe explicou-me que essas atitudes parvas de isolamento não são menos preocupantes só porque não se exterioriza a raiva ou o que quer que seja que se sente nessa fase da vida.
de vez em quando, sinto que retorno aí. não por nostalgia, porque definitivamente não gostaria de voltar a ter 15 anos. sinto é que ainda hoje tenho atitudes que não parecem ser de uma pessoa com 30. ou é a minha impulsividade ou é o ficar sem jeito perante algumas situações ou mesmo sentir as pernas a tremer por um nervosismo parvo de quem se sente insegura, característica que não gosto de pensar que tenho. mas se calhar tenho e acaba por se revelar nas alturas mais impróprias. não gosto desta sensação de não ter controlo sobre o que digo ou faço, simplesmente porque os nervos me turvam. talvez seja natural, mas não é demonstrativo daquilo que sou e isso incomoda-me. 
é verdade que ter 15 anos pode ser idílica e romanticamente maravilhoso. mas também atrapalha. e de que maneira!

Comentários

Aos 15 somos sempre incompreendidos, o mundo vira-se contra nós e as nossas camisas de flanela (que eu também tive). Mas não és a única - e eu já tenho 40 anos - a sentir a mesma insegurança e a apetecer correr para o quarto e fechar a porta quando as coisas não correm tão bem. E o nervoso miúdinho, a vontade de abrir a boca e dizer o que quer que seja. A vida não é fácil. :)
Enjoy the Ride disse…
fico contente por perceber que não estou sozinha! :)
Joana disse…
Também era bastante maria-rapaz aos 15 anos (para minha felicidade acho que nem tenho fotos da altura) e, tal como tu, adorava música pesada. E também era infeliz. Mas isso também nunca me impediu de ter um namorado ;)
Enjoy the Ride disse…
ahahah somos a prova a de que há gostos para tudo! :)