desabafo

aos poucos, começo a aperceber-me desta tranquilidade que tenho tido nos últimos tempos e agradeço. há dias, em conversa com um amigo, disse-lhe que esta nova fase para mim, sem sobressaltos [bons ou maus] deve ser uma bênção neste oceano de problemas que o mundo dos adultos insiste em impingir-nos. tenho até medo de falar, mas nesta altura não tenho nada de significativo que me faça sentir triste, zangada ou desmotivada. parei por uns instantes e percebi isto. agradeci e agradeço diariamente, agradeço vezes sem conta esta paz. 
mas, como sempre insatisfeita, analisei o reverso da medalha: não estou habituada a tanta tranquilidade. durante anos, a minha vida foi uma espécie de montanha russa emocional, com idas de voltas, com o pior e o melhor que duas pessoas podem e devem ter, mas sempre no limite, sempre com uma intensidade alucinante, mails e mensagens e telefonemas o dia inteiro, todos os dias. acho que acabei por me habituar a esse registo e já não sabia que podia viver de outra forma. 
o final de uma relação traz inevitavelmente sofrimento e infelicidade. mesmo que seja de comum acordo, há uma espécie de herança emocional que sabemos que teremos que carregar pela vida fora e nem sempre as recordações são fáceis de arrumar ou as comparações evitáveis de fazer. é necessário tempo para o luto. assimilar o que de bom devemos reter e esquecer aquilo que não nos faz falta. até conseguirmos alcançar alguma serenidade. e é essa mesma serenidade que dou comigo a viver. 
como diz uma amiga minha tão sabiamente, há dois tipos de pessoas: as que precisam de um novo amor para esquecer o antigo e as que (como eu) precisam de se resolver sozinhas para estarem disponíveis para uma nova história de amor. foi neste encadeamento de pensamentos à solta que me dei conta que esta serenidade é boa para sossegar o espírito, mas faz-me falta, uma falta imensa, estar apaixonada. sentir borboletas na barriga, vibrar com um olhar revelador ou uma troca de palavras cheias de segundos sentidos, viver a fase sedução sem pressas, investir tempo nas dúvidas próprias de quem gosta e desconfia que é correspondido. sinto falta da agitação interior e do telefone a tocar com um bom dia inocente ou um desce que vamos ao cinema inesperado. sinto falta de ser surpreendida com pequenos gestos e de promessas cumpridas. sinto falta da paixão e do quanto ela nos torna pessoas mais bonitas, brilhantes, seguras, confiantes, positivas. 
e acredito que a vida me surpreenderá novamente num momento inesperado, com um encontro improvável. porque são esses momentos que fazem o caminho valer a pena.

imagem

Comentários

Unknown disse…
Poderia ter escrito tudo. Tudo mesmo.. :)