do bom senso (ou falta dele)

hoje, a propósito de um post que vi no Facebook, levantaram-se-me algumas questões. 
faço já uma declaração de interesses: sou, acho que sempre uma fui, uma curiosa e defensora desta rede social, que, usada com conta, peso e medida me parece uma excelente ferramenta profissional e cultural. para quem trabalha na área da comunicação, o Facebook é o passa-a-palavra moderno, que agiganta qualquer marca ou produto, dando a conhecê-lo em larga escala. é também um meio fácil e eficaz, se soubermos filtrar o que é importante, de nos mantermos informados, a par das novas tendências e da cultura, daquilo que melhor se vai fazendo dentro e fora de portas, de descoberta de interesses e de sugestão de coisas que potencialmente nos possam interessar. por último, mas não menos relevante, é uma forma fácil e barata de nos irmos mantendo mais ou menos a par do que se passa com algumas pessoas com quem não temos a possibilidade de estar ou conversar diariamente. nada mais. 
choca-me que esta rede social se tenha tornado um vazio gigante, onde se acumulam solidões, mascaradas de uma falsa comunidade. choca-me que as pessoas vivam nessa realidade paralela, como se a vida dependesse da aprovação dos outros. ou pior, como se a vida só existisse perante a aprovação dos outros. choca-me ainda ver que não existem já momentos em que as pessoas saibam estar umas com as outras, sem terem que expor uma parte ou o todo dessa privacidade, seja pela necessidade de mostrarem o lugar onde estão, as pessoas com quem estão ou aquilo que estão a fazer. assusta-me esta nova realidade, em que só é considerado quem tem uma vida fantástica, cheia de fotografias de sítios maravilhosos e de experiências únicas. fico sempre com a sensação que estas são as pessoas mais solitárias, que se afirmam assim, a gritar ao mundo virtual olhem para mim.
mais do que tudo isto, hoje indignei-me ao ver duas fotografias que uma amiga publicou da filha numa cama de hospital. indignei-me porque esta era a pessoa que há uns meses criticava convictamente todas as pessoas que usavam o Facebook com regularidade. esta é a pessoa que hoje é viciada e não consegue estar sentada a almoçar sem que o telemóvel funcione a cada meio minuto para tirar fotografias ou publicar alguma coisa. esta é a mesma pessoa que não teve pudor em expor a privacidade da filha, num momento que, diria eu, deveria ser recatado e familiar. a pessoa que sentiu necessidade de publicar uma fotografia de uma cama de hospital com uma frase enigmática para que todos os que estavam ligados a esta comunidade virtual corressem a perguntar o que se passava. 
não me interpretem mal: no Facebook, como a vida em geral, cada pessoa tem liberdade para se expressar como quiser. podemos gostar mais ou menos e guardar ou não as nossas opiniões para nós. mas esta liberdade termina quando começa a do próximo. e, ao abrir o meu mural, não tive alternativa senão ver estas fotografias, que me chocaram. 
este episódio incomodou-me. sobretudo por se tratar de alguém que tinha sempre o dedo apontado à exposição, por pouca que fosse, e que hoje se encontra no lado oposto, muito distante daquilo que defendia. que exemplo é este que se quer passar aos filhos?
posso estar a ser muito careta, mas acho que, como em tudo na vida, o equilíbrio e o bom senso tendem a ser os nossos melhores aliados. e as redes sociais não são exceção. 


[Enjoy the Ride no Facebook]

Comentários

Nem mais. Também adoro o Facebook que me ajudou, entre outras coisas a lançar a minha marca e a encontrar amigos que já não via há anos. Sei onde anda toda a gente que me interessa mas com conta peso e medida. Há que saber estabelecer os limites e acho que é aí que falham: uns começam e a conversa de "ir trás dos outros" que a mim mais me parece uma competição faz com que se tornem escravos. Há limites!
Enjoy the Ride disse…
enfim, as idiossincrasias dos tempos modernos.