da ironia

há dias fui fazer um exame ginecológico a uma clínica da especialidade. foi a segunda vez que lá fui. o serviço é eficaz, sem grandes demonstrações de simpatia. desta vez, estive quase uma hora e meia à espera que me chamassem. tendo em conta que fui à hora do almoço e que não havia muita gente, nada o faria prever. 
esperei, sem reclamar [isto de estar férias é como um placebo, garanto]. soube entretanto que a demora se devia a um atraso numa biópsia que estava a ser feita. compadeci-me. e fiquei secretamente feliz por não ser eu a ter que fazer aquele exame. na sala de espera, que entretanto se foi compondo, mulheres de todas as faixas etárias e classes sociais. lembrei-me de um texto que li há tempos sobre esta ironia que existe numa sala de espera de um consultório ou de um hospital: não existe lugar mais democrático. somos todos iguais, não há dinheiro ou estatuto social ou conhecimentos que nos valham. somos nós com as nossas dores e desapegos. somos nós e a maldita doença que nos invade. é uma questão de genética e de cuidado, mas acima de tudo de sorte.
o meu contentamento secreto desmoronou ao ver sair aquela mulher, tão magra, da sala de exames. hoje ela, amanhã quem sabe?

Comentários

Teresa disse…
tens toda a razão...
Enjoy the Ride disse…
ver sair aquela mulher foi como um murro no estômago. quando as histórias ganham uma cara é que caímos em nós.