desapegar

não sou, nunca fui apegada a objetos. exceção para fotografias ou pequenas coisas de valor sentimental, sempre me foi fácil desfazer de coisas materiais. há dias, o meu Pai andou a arrumar o escritório dele e encontrou uma série de livros meus, apontamentos, desenhos e testes da escola e perguntou-me o que lhes queria fazer. tenho uma regra que me define há anos e que nunca me deixou ficar mal: se, no prazo de um ano, não precisei ou nem me lembrei que determinada coisa existia, então é porque não me faz falta. lá em casa, quando entra um móvel, sai outro. quando entram peças de roupa ou sapatos, saem outros tantos para dar a alguém que precise.
o OLX tem sido uma belíssima forma de me desfazer de uma série de coisas que, por uma ou outra razão, já não quero ou preciso. funciona lindamente, é simples, descomplica-nos a vida e, na verdade, também tenho tido muita sorte com as pessoas que tenho encontrado. já abri a porta de minha casa várias vezes e só tenho boas referências. 
ontem, pela primeira vez, dei comigo a olhar para um móvel e, segundos antes de o levarem, a sentir uma espécie de nostalgia sentimental. por ter sido o primeiro, por ter feito parte da minha primeira casa, da minha emancipação da asas dos meus pais, por ter tantas histórias para contar. foram breves segundos que desapareceram, assim que me consciencializei novamente de que não são os objetos que nos definem, mas as memórias que guardamos para sempre. são assim os lugares, as bandas sonoras, o ambiente que nos rodeiam. faz tudo parte de um cenário que está em mudança constante, para acolher mais e mais momentos, que se transformam em boas memórias.

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