em vão?

hoje, a propósito de uma música que ouvi, dei comigo a pensar sobre as relações que chegam ao fim e em que acabamos invariavelmente a dizer [no calor do momento] que andámos a perder tempo e que tudo foi em vão. e em vão porquê? nenhuma relação é eterna. ou melhor, as pessoas são tão voláteis, a vida que levamos é tão diferente do que era na época dos nossos pais e avós, tão acelerada, que há muito pouca gente disposta a batalhar por um amor ou uma relação para sempre. mas daí a dizer-se que foi tudo em vão, é não só diminuir aquilo que vivemos e a pessoa com quem vivemos, como é também afirmar que andámos a perder tempo num lugar sem sentido. 
se a nossa vida é feita de momentos, se a felicidade são esses instantes bons de guardar, é injusto, imoral e muito triste dizer-se que o tempo que investimos em alguém - que é sobretudo tempo que investimos na nossa felicidade - foi tempo perdido. a menos que a relação tenha sido totalmente frustrada ou tenha envolvido algum tipo de violência, o que são, claro, casos extremos.
tenho por lema não me arrepender do que não faço. por isso faço, arrisco, batalho para viver. porque as decisões são sempre tomadas numa circunstância específica e as escolhas que daí resultam são as que parecem mais acertadas num dado momento. se são para sempre? à partida, não há como saber. se são sólidas, refletidas? claro que sim. se acredito nelas? mais do que tudo, ou não optaria. se são importantes? sem dúvida, para o meu crescimento enquanto pessoa, para enriquecer o meu lado emocional, para aprender também, e por vezes, o que não deveria fazer. tudo aquilo que vivemos, e que depende da nossa vontade, acaba por nos definir. retiramos sempre alguma coisa boa de todas as relações que temos ao longo da vida. algumas não resultam, mas haverá uma, mais cedo ou mais tarde, que é segura e definitiva. enquanto durar, como diz o poema. no caminho, precisámos de todos os desvios e aprendizagem para a saber reconhecer. 
por isso me incomoda tanto a expressão foi tudo em vão. não foi. nada é em vão. ninguém é em vão. e, se interiorizarmos isto, deixamos de negar a felicidade que pode eventualmente espreitar pela porta.


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