e num instante, tudo muda

esta semana, a par das notícias sobre a auxiliar de enfermagem espanhola que contraiu o vírus do ébola, dei comigo a pensar em como a vida é estranha e surpreendente, e nem sempre no melhor dos sentidos. aquela família, que provavelmente julgava que aquele seria mais um dia normal nas suas vidas, viu, em poucas horas, o seu mundo ruir. Teresa Romero infetada com o vírus, o marido de quarentena e o cão de ambos foi morto. não sei em que momento é que o pânico se instala na vida de cada um de nós e num todo, enquanto sociedade. mas sei que este caso me lembrou o Ensaio Sobre a Cegueira, de Saramago, e a forma como esse livro me assustou. não consegui parar de o ler e, creio que por carolice, acabei também por ver o filme [que, para mim, ficou muito aquém do livro]. lembro-me de, a dada altura, querer ter a distância suficiente para perceber que a ficção nem sempre se baseia na realidade e anda muito longe dela, mas ao ver as notícias dos últimos dias, não pude evitar recordar.
assusta-me esta facilidade com que nos deixamos dominar pelo medo, com que nos aterrorizamos sem procurar primeiro a informação correta. mais, fiquei de rastos ao ouvir a notícia do abate do cão [uma coisa que só os amantes dos animais compreendem], sem que tenha havido testes para perceber se o animal seria ou não portador do vírus. de repente, aquele homem saiu de casa, para mais um dia normal, e no fim do dia a vida mudara: a mulher internada, à beira da morte, o cão morto e ele perdido, tão perdido quanto está uma pessoa a quem tiram o chão e a vida, tal como a conhece.
mais do que a doença, apavora-me este lado brutal e quase primitivo que a globalização nos trouxe. este lado que não olha a meios, que tem que ser imediato e incisivo, capaz de nos marginalizar e atemorizar.

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