Amour, de Michael Haneke

dizer que este filme é desconcertante seria pouco, muito pouco. Amour é absolutamente perturbador. o filme é de 2012, foi galardoado com o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro, em 2013, mas andei a adiá-lo até hoje.




arriscaria dizer que ninguém está verdadeiramente preparado para ele. como nunca ninguém está preparado para olhar ao espelho e ver refletida uma realidade que não escolhe, mas que, pela imprevisibilidade da vida, pode sempre bater à porta. Amour é um filme tão cru quanto triste, que nos confronta e nos faz pensar na inevitabilidade da morte. é quase impossível ver esta obra sem nos lembrarmos de alguém, amigo ou familiar de idade, que já tenha passado por uma situação permanente de doença. não se trata de um murro no estômago, mas de vários, no corpo inteiro. eu, que não sou dada à lágrima fácil, dei por mim a chorar e a recordar, a desejar um amor assim, na saúde mas sobretudo na doença. um amor incomparavelmente esmagador, que ampara, que cuida, que sofre em silêncio para não ferir mais, que resiste e insiste, que promete - e cumpre - respeitar a vontade da mulher de se manter em casa, com os cuidados possíveis. 
a propósito, encontrei este belíssimo texto, na New Yorker, que, mostrando isso mesmo, que este filme é ou pode ser sobre tantas realidades que conhecemos, é tão bonito como o filme que acabo de ver. e termina com um pensamento sobre uma das cenas mais comoventes do filme, em que Anne, já condicionada fisicamente, pede para ver os álbuns de fotografias do casal, admira-as e diz que a vida é tão longa:

“Life is so long,” says Anne contentedly, as she and Georges flip through an old photo album. As I sat crying in the movie theatre, I realized that if I was lucky enough to say the same, and lucky enough to find love that lasted, I would be unlucky enough to see it end.

Comentários

Dulce disse…
Bom dia!Fiquei com tanta vontade de ver esse filme, quando aqui venho apercebo-me da quantidade de filmes que gostaria de ver e que não vi ... ultimamente quando vamos ao cinema é para ver filmes para crianças(felizmente que a qualidade dos filmes infantis é bastante boa!)
Será que podes facultar-me o nome do site onde vês os filmes?
Obrigada e bom domingo
Enjoy the Ride disse…
Este vi na RTP2, deu na passada quarta feira à noite. Alguns alugo na box. Mas procura por Popcorn Time. ;)
O Zootrópolis também está aqui na lista para breve.
Dulce disse…
Boa! Assim ainda consigo ver!
Está prometida às pequenas uma ida ao cinema ver o Zootrópolis :)
Muito obrigada
Uma boa semana
Enjoy the Ride disse…
boa semana, Dulce. e bons filmes! ;)
Dulce disse…
Ontem vi o filme. Achei o filme muito comovente e triste, os actores foram excepcionais e por várias vezes senti-me como uma intrusa que não tem o direito de se intrometer na intimidade sagrada daquele casal.
Um amor daqueles é tão bonito mas a velhice pode ser tão cruel ...
Fui para a cama a pensar no filme e tive medo com o que o futuro me/nos possa reservar enquanto casal( apesar da velhice ainda estar distante).
O filme dá que pensar, na vida, na morte e no direito de partirmos onde e na companhia de quem quisermos quando sentirmos que chegou o momento de partir com alguma dignidade.
Cabe-nos a nós viver uma vida com histórias que nos encham o peito " e não, ao morrer,descobrir que não vivi"

Beijinhos e obrigada uma vez mais pela partilha

Gosto muito de vir aqui :)
Dulce disse…
Depois de publicar o comentário e de ter lido o que acrescentei sobre a velhice ainda estar distante, queria acrescentar que eu sei que esta é uma realidade que pode bater à porta de qualquer casal, em qualquer altura e isso é simplesmente aterrador...
Pronto e agora vou-me calar:p
Enjoy the Ride disse…
oh Dulce, muito obrigada pelas palavras tão queridas e por te teres dado ao trabalho de vir aqui comentar o filme, depois de o veres. de facto, ninguém fica indiferente a ele e é inevitável, acho eu, questionarmo-nos sobre o que o futuro nos reserva e a forma como poderemos reagir.
bom fim de semana e beijinhos! :)