cenas minhas

eu sei que o dia está lindo, que o frio é muito relativo e que o sol brilha lá fora. mas, com a neura que tenho hoje, que vai daqui a Cacilhas, não preciso que mo repitam a cada dez minutos. não tenho neuras (destas, pelo menos) muitas vezes, mas, quando tenho, gosto de estar sossegada no meu canto. não chateio ninguém, mas também não sou a melhor companhia do mundo.
tenho dias assim, porque acumulo e absorvo tudo o que me rodeia e não processo o que me acontece à mesma velocidade. o nosso método de auto-conhecimento é uma coisa curiosa: só agora, aos 32 anos, é que começo a perceber alguns mecanismos de defesa que o meu corpo e a minha cabeça utilizam para me proteger.


imagem


é inconsciente, mas faço-o: tendo a varrer para debaixo do tapete as coisas difíceis. passo por elas, grito e esperneio no momento - uma espécie de desabafo emocional - e depois esqueço-as por algum tempo, como se elas não me pudessem afetar. mas afetam e, mais tarde ou mais cedo, isso tem consequências. não sou uma pessoa que fale de tudo o que lhe acontece e creio que isso me penaliza. 
depois, tenho um bloqueio mental estúpido, que me impede de chorar. às vezes quero muito, porque me ajuda e alivia, e pura e simplesmente não consigo. até ao momento em que a minha cabeça não aguenta mais e, bastam as primeiras notas de uma canção que me diga alguma coisa, para abrir a torneira e não mais parar. ontem, foi um desses dias. chorar não resolve, é certo. mas limpa-nos a alma e ajuda-nos a ver as coisas com maior clareza, mesmo que as conclusões que tiremos não sejam as que desejamos. a mim, retira-me um peso do peito, dos momentos que fui acumulando e que, sem que eu pudesse controlar, ficam por ali a pairar e a comprimir os dias. 
eu sei que o dia está lindo, mas preciso de tempo para que esta tempestade sossegue e as nuvens desapareçam. o processo é lento, por vezes doloroso, mas necessário. um destes dias, quando der por mim, estou a abrir a janela para deixar o sol entrar. é o ciclo que se cumpre.

Comentários