solteira aos 32

há um momento da nossa vida - embora eu não perceba bem quando é que isso acontece - em que grande parte das pessoas que nos rodeiam cismam que temos de estar acompanhadas e que têm de ser elas a arranjar-nos companhia, qual bom samaritano. talvez seja quando ultrapassamos a barreira dos 30, talvez. o que, no meu caso é estranho, já que as pessoas com quem me dou são tão heterogéneas (de gays/lésbicas às divorciadas, há de tudo), que a minha condição acaba por passar despercebida: solteira, sem filhos e sem romance à vista.



o problema surge quando estas pessoas - nas suas próprias condições, algumas mal resolvidas - pensam que estamos mal assim, sem que nunca tenhamos dado disso sinal. eu não estou. pelo contrário, estou bem: sou independente, trabalho, vivo sozinha e tenho liberdade, o que me permite ter uma vida preenchida do ponto de vista pessoal e cultural, que nesta altura me satisfaz bastante. 
mas, basta que haja alguém por perto que faça um elogio ou seja gentil, para logo de seguida ter de ouvir um rol de qualidades, que enaltecem a pessoa em questão, como se a minha felicidade dependesse dela e eu ainda não tivesse dado por isso. ora, eu acho que já sou crescidinha o suficiente para perceber o que é melhor para mim. 
um pouco como aqueles arranjinhos que os amigos tentam fazer, aqueles encontros casuais, em que calha encontrarem-se todos na mesma esplanada e, mesmo antes das apresentações, já se sente o constrangimento no ar, porque as pessoas já ouviram falar tanto uma da outra, mas têm de fingir que não. 
em que momento é que a espontaneidade deu lugar a estas campanhas de marketing, que, na maior parte das vezes, nós não encomendámos? quando é que passou de moda conhecer pessoas simplesmente porque sim, por casualidade e nas mais diversas circunstâncias, e reconhecer nelas aquela faísca que nos tolda o pensamento? quando é que deixámos de acreditar na magia do inesperado, na força de se ser arrebatado pelas borboletas na barriga, no incómodo (bom) de ter as pernas a tremer de cada vez que os olhares se cruzam?
eu passei os 30, mas continuo a crer em tudo isso. ingenuamente? talvez. mas, enquanto assim for, escusam de me tentar impingir o amigo-do-amigo, o vizinho-do-terceiro-esquerdo ou o rapaz-da-informática. porque, como dizia há dias um amigo, o inexplicável conta muito. eu diria mesmo que, ao primeiro impacto, é a única coisa que conta.

Comentários

Magda disse…
E só assim é que vale a pena!
Enjoy the Ride disse…
ainda bem, Magda, que não sou a única a pensar assim. :)