o melhor... o quê?

vejo com regularidade - vá, repetida até à exaustão - a frase de que o melhor está sempre por vir. como a maior parte dos clichés que vamos lendo por essa internet fora, reproduzidos vezes sem conta, em jeito de autoajuda, não consigo perceber esta moda (ou o que lhe quiserem chamar) de termos necessariamente de ser todos felizes, de partilharmos fotografias de momentos agradáveis a toda a hora, de mostrarmos ao mundo que a nossa vida é maravilhosa. como se fosse verdade. ou como se as dificuldades não fizessem parte do caminho e não fossem elas que nos fizessem crescer e formassem a nossa personalidade.

não, o melhor não está por vir. o melhor escapa-nos vezes sem conta, porque estamos demasiado ocupados a olhar para um ecrã e a registar o irrepetível em vez de o vivermos. por isso é mais fácil acreditar que o melhor ainda está por vir e que o vamos reconhecer - e viver! - quando ele acontecer. esta hipocrisia perpetua-se e tem eco permanente nas redes sociais. adoraria que houvesse estatísticas (honestas) sobre a relação entre os posts/comentários pseudo-positivos que se multiplicam e o verdadeiro estado de espírito e das vidas das pessoas que os publicam. talvez ficássemos bastante surpreendidos ao perceber que afinal não somos todos felizes todos os dias. que as pessoas felizes não vivem numa redoma de felicidade absoluta, mas também se chateiam, também se irritam, gritam, choram, ralham, cometem erros, são injustas numa ou noutra situação. claro que esse glamour ninguém quer ler, porque a felicidade funciona por contágio - toda a gente sabe! - e portanto não vamos maçar o mundo com as nossas pequenas e insignificantes questões, não vão elas pegar-se. ser feliz assim não está ao alcance de todos, só de uns quantos iluminados e agraciados com o dom da calma e da resignação e perseverança. e eu, infelizmente, não sou uma dessas pessoas.

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