no escuro do cinema

se é verdade que as plataformas de streaming vieram mudar radicalmente a forma como vemos e olhamos para os filmes, e embora eu vá cada vez menos, adoro ir ao cinema. sobretudo em dias de semana, à noite, para descontrair depois do trabalho. acontece-me muitas vezes deixar escapar os filmes que mais me interessam, mas, quando se aproxima a época dos Óscares, tento ver o máximo possível. os Globos de Ouro e os Bafta costumam ser bons indicadores daquilo que não devemos perder, sobretudo se quisermos estar a par da atualidade. apesar disso, o resto do ano vejo pouco cinema comercial (ou de massas) no grande ecrã e muito mais filmes alternativos (se assim lhes posso chamar), porque é para esses que habitualmente tenho ofertas.
esta semana, tive a sorte de poder ir a duas antestreias de dois filmes com nomeações para ambos os prémios. 


o primeiro, Nunca Deixes de Olhar, nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, do mesmo realizador d' O Turista e d' As Vidas dos Outros, era bastante promissor: um filme alemão sobre o percurso de um artista que, depois da II Guerra Mundial, se mudou da Alemanha de Leste para a Alemanha Ocidental, mas que levou consigo toda a bagagem psicológica da sua infância que a Guerra lhe deixou. o argumento foi bem construído, mas tem à vontade mais uma hora do que devia. três horas de filme depois, tudo o que queria era que aquilo acabasse. e ameaçou várias vezes. a II Guerra Mundial é um dos temas que me faz muitas vezes apostar em filmes que não são óbvios para a maioria, porque o assunto me interessa bastante, mas a sua intensidade e seriedade deviam fazer com que a abordagem fosse mais cuidada, no mínimo menos morosa, já que há tanto para processar.


Maria, Rainha dos Escoceses é toda uma outra história. de resto, já conhecida e retratada em tantos outros filmes, mas este encheu-me as medidas. as interpretações da Saoirse Ronan e da Margot Robbie são absolutamente irrepreensíveis e fazem o filme quase todo. houve alguns momentos de tensão e surpresa, momentos em que damos por nós a apertar o braço da cadeira do cinema e a desejar que a História se reescreva. já ouvimos e vimos até à exaustão histórias de mulheres que tiveram de se impor em territórios masculinos, onde os jogos de poder eram mais fortes e acabavam por anulá-las. esta não é só mais uma. para quem gosta de narrativas históricas e intrigas reais, também de histórias de rainhas e tronos, paisagens de tirar a respiração, esta é uma ida ao cinema garantidamente feliz.

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