retomamos as relações dentro de momentos

quando estamos solteiros, é comum na fase crítica acharmos que somos os únicos nessa condição, o que nos deixa ainda mais deprimidos. longe de estar deprimida, nesta minha [já longa] fase de solteira tenho parado muito para olhar para dentro e à volta e para refletir sobre as relações e a minha forma de estar nelas. em conversas com amigos ou nas histórias que vou ouvindo, tenho sempre concluído a mesma coisa: a experiência vai-nos ensinando que a nossa bagagem emocional nos ajuda a definir, antes de mais, o que não queremos para a nossa vida; e torna-nos, sem dúvida, pessoas mais exigentes e menos tolerantes àquilo que sabemos que não vai resultar ou encaixar na nossa personalidade. naturalmente, isso dificulta também que o príncipe encantado (ou a princesa) apareça, se estivermos à procura de uma relação séria e duradoura. mas evita-nos toda uma série de chatices, discussões e perdas de tempo a que as relações disfuncionais nos sujeitam.
eu, por exemplo, sei que preciso de ter ao lado uma pessoa madura, que saiba ouvir e tenha abertura para me compreender, mas, ao mesmo tempo, que faça o contraditório, equilibrando aquilo que eu penso, por vezes de forma errada, e chamando-me à razão todas as vezes que forem necessárias. independentemente da idade, é a maturidade que me interessa. depois, preciso de alguém que saiba conversar, que tenha mundo. ou, se não tiver, que seja curioso e interessado. até um pouco insatisfeito, no sentido de procurar sempre ser melhor, saber mais, crescer todos os dias. alguém que não se acomode, mas que saiba também apreciar o que a rotina tem de melhor. alguém que não se importe de passar uma tarde de domingo no sofá a fazer coisas tão díspares como binge watching na Netflix ou planos para uma viagem ao outro lado do mundo. que saiba desfrutar de uma noite em família, à mesa, com conversas intermináveis e jogos de tabuleiro, mas que goste igualmente de sair para ver um bom concerto. alguém que queira uma relação saudável e que reconheça que são tão importantes os desabafos emocionais como os silêncios tranquilos, de mão dada. que saiba ceder quando é preciso, que reconheça as minhas imperfeições no momento certo e as aceite.
sei que não há pessoas perfeitas, mas há certamente imperfeições que conseguimos aceitar e aprender a amar. o tempo e a experiência de relações passadas ajudam-nos a ter isto tão claro, que nos pode condicionar. é preciso distanciarmo-nos o suficiente da nossa bagagem emocional, pô-la em perspetiva, para saber lidar com esta clareza e ter o espírito aberto para quem a vida nos coloca no caminho.

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