#UmaDuziaDeLivros

e eis que ao segundo mês já não cumpri o desafio! qual desafio? o da Rita da Nova, com a sua Dúzia de Livros. a escolha do livro foi difícil: janeiro não tinha sido brilhante, por isso desta vez queria acertar num bom livro. e assim foi. então e porque é que demorei tanto? bom, comecei a lê-lo ainda em janeiro, mas, como eu suspeitava, o tema era denso e a leitura não foi fácil. como grande parte do que leio é à noite, antes de dormir, este Regresso a Auschwitz teve de ser doseado por duas razões: primeiro, porque a história - se assim lhe posso chamar - é verídica e, portanto, cheia de murros no estômago; depois, porque grande parte do livro é documental e com expressões e referências a nomes alemães, polacos ou suecos, que são línguas que não domino e, embora haja traduções, perdemo-nos um pouco no texto.
é inenarrável tudo aquilo que este livro contém... e nós nunca saímos do plano da imaginação, nunca nos aproximamos verdadeiramente da dimensão da tragédia. tudo o que ali vem descrito aconteceu, com mais ou menos pormenor. o fio condutor que nos acompanha da primeira à última página é como é possível que isto tenha sido real? qual é a dimensão da maldade humana para que estas pessoas, tantos milhões delas, tenham passado por isto? já aqui escrevi que tenho todo o interesse pelo tema II Guerra Mundial e que visitei sozinha, há pouco tempo, um campo de concentração. nunca nada nos prepara para isso. mas é importante que possamos ler sobre o tema, para que a memória não se apague. com este livro, isso certamente não acontece.
em que medida é que é a história de uma família, o tema de fevereiro? pois bem, o autor, Goran Rosenberg, conta a história do pai, David - e da mãe, ainda que brevemente -, desde que foi obrigado a abandonar a sua vida e levado para Auschwitz. ao longo de sensivelmente dois terços do livro, ele reconstrói aquilo que sabe (ou julga) ter sido o percurso de sobrevivência do pai, através de cartas enviadas a familiares e amigos, a documentação oficial das SS, de médicos, tudo aquilo a que teve acesso e que ligou, como um puzzle, até chegar à libertação de David. as referências a locais e àquilo que terá vivenciado durante os anos são constantes e sustentadas sobretudo pelas cartas que a mãe e o tio guardaram e disponibilizaram ao autor. é quase um documentário em forma de livro, um testemunho por interposta pessoa. no último terço do livro, Goran Rosenberg inclui as suas próprias memórias com o pai e conta-nos as repercussões que os anos em Auschwitz tiveram sobre ele e os danos psicológicos, que acabariam por levá-lo a várias tentativas de suicídio, acabando mesmo por morrer. a sua luta nos últimos anos de vida foi provar que o seu estado físico e psíquico fora provocado pelo período mais negro da sua vida, estado que acabou por ser agravado pela constante desconstrução que as autoridades alemãs faziam das provas que David apresentava para poder receber uma indemnização e ver reconhecida a culpa da Alemanha. o tema é vasto e dá pano para mangas. o próprio autor questiona algumas vezes a memória que guardou de tantos momentos, quando os documentos que tem consigo (cartas, fotografias, etc.) provam que afinal as coisas não se passaram bem como ele as lembra.
foi mais de um mês para conseguir ler e assimilar tudo o que Regresso a Auschwitz é. estou ainda a digerir. ontem, depois de o fechar, peguei rapidamente noutro livro para tentar limpar a cabeça e afastar-me daquela carga emocional tão forte. ainda não entrei no comboio de março, tenho o clássico à cabeceira. para já, descanso dos temas fortes.

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