psico quê?

há já muito tempo que pensava em fazer psicoterapia. tenho uma curiosidade genuína sobre a forma como a nossa mente funciona e como nos adaptamos a (quase) tudo na vida e achava que a psicoterapia poderia ajudar a conhecer-me melhor. só que fui adiando essa vontade, porque as consultas são caras e há sempre coisas mais prioritárias onde gastar o dinheiro. achava eu. 
há uns meses, comecei a ter sintomas físicos de ansiedade. foi por essa altura que me inscrevi nas aulas de yoga, que ajudam bastante a relaxar, mas, no meu caso, só enquanto lá estava. além de ter descoberto a primeira (ou talvez segunda, porque gosto muito de nadar) modalidade que me faz querer sair da cama para me exercitar, descobri também que é uma ótima forma de ajudar a respiração, a concentração e a consciência de nós mesmos e do que nos rodeia. mas, dizia eu, o yoga, embora muito relaxante, só me trazia tranquilidade durante as aulas e pouco depois delas. 
comecei por ter pequenas arritmias espaçadas, que gradualmente se foram tornando mais presentes e incontroláveis, até se instalarem de forma permanente. foi nessa altura que, assustada, mas com uma suspeita, quase certeza, de que não seria nada físico, decidi que não ia adiar mais a psicoterapia. se vos disser que a escolha do centro e da terapeuta foi meramente casual, vão perceber a sorte que tive por ter resultados tão bons. há uns tempos, tinha ouvido um podcast de um amigo, que entrevistou uma psicóloga sobre terapia de casais, mas referindo que o centro onde trabalhava tinha terapia individual e até para crianças. fui ao site, encontrei uma extensão da clínica perto de casa e marquei com uma das duas psicólogas que davam consultas dentro do horário que me dava jeito. se foi arriscado? foi. mas correu bem. à segunda consulta, já estava no centro principal, que afinal era mais conveniente para mim. mais: o ambiente do centro é superacolhedor e as pessoas fazem-nos sentir em casa. até as crianças, tantas com quem me cruzo na sala de espera, adoram as terapeutas e a rececionista. feito este aparte, porque o ambiente também importa, vamos ao que interessa: a psicoterapia. as primeiras duas consultas foram, por assim dizer, uma contextualização geral daquilo que eu considerava serem os meus problemas maiores, as vivências com que, por alguma razão, não sei lidar ou que não ultrapassei e me mantêm presa. comecei com consultas semanais e logo à segunda ou terceira já notava melhoras. é importante que se diga que não tomei medicação nenhuma, a não ser Valdispert, ainda antes de iniciar as consultas, e que, na verdade, não surtia qualquer efeito. curiosamente, a psicoterapia é para mim, hoje, um mistério maior do que antes: como é que apenas através da conversa se resolve a manifestação de sintomas físicos que mais não são do que a expressão de qualquer coisa que está errada na nossa cabeça? não sei. ou melhor, o que sei é que os problemas não se resolvem ali, naquele consultório a meia luz e a cheirar a baunilha. o que sei é que conversar sobre eles nos dá novas perspetivas e abordagens, inputs dados por alguém imparcial e que nos obriga permanentemente a questionar as nossas escolhas, a vê-las de fora. ajuda-nos, e isso é indiscutível, a conhecermo-nos melhor, a percebermos algumas das nossas decisões, a ponderar o passado para assimilar no presente o que não queremos ou devemos repetir no futuro. tem sido um processo muito saudável e gratificante. as consultas passaram a ser mais espaçadas, quinzenais, o que foi um bom sinal. tal como as semanais, também agora serão de duas em duas semanas enquanto ambas, a terapeuta e eu, acharmos que faz sentido e que é necessário. ainda não me sinto preparada para fazer só consultas de manutenção. há muito trabalho pela frente, que não consigo ainda fazer sozinha. mas sinto que com a ajuda dela estou no bom caminho.

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