da humildade

há uns anos largos, tive um namorico com um rapaz, que durou muito pouco. eu gostava dele, ele dizia que gostava de mim, saímos algumas vezes, divertimo-nos. mas, quando a coisa começou a ficar séria, sem que nada o fizesse prever, ele deixou-me. e, como se isso não bastasse, tratou-me mesmo mal na altura, sem nenhuma razão. foi a nossa primeira e última discussão. desde esse dia, sempre que nos cruzávamos circunstancialmente, o ambiente era constrangedor, com um olá de nariz torcido. não percebi o que aconteceu. não tinha que ser!, era a frase que mais repetia e que durante algum tempo me confortou. superei o desgosto e segui em frente, sem nunca pensar muito nisso. 
até que, tantos anos depois, recebi um mail dele. um mail humilde e sincero, a explicar que está a passar por uma situação complicada (uma separação, parece-me) e a pedir desculpa, porque agora sabe e sente o mal que me fez e quanto me magoou. e atribui a esse momento infeliz (mais do que superado e esquecido) uma espécie de castigo que está a pagar agora. confesso que foi tão inesperado que fiquei sem reação. acho, acima de tudo, que é preciso uma grande dose de coragem e de humildade para admitir o erro e pedir desculpa por ele. sobretudo passado tanto tempo, os dois já adultos e com vidas tão diferentes e distantes. acho que me surpreendeu também esta capacidade que vamos perdendo de acreditar nas pessoas e, com um gesto tão simples, percebermos que afinal a humanidade pode não estar assim tão perdida. 

Comentários

Há coisas que são mais fortes que eu e tenho de as deitar cá para fora: cá se fazem, cá se pagam. Não penses que tenho esta costela vingativa, mas é um "dizer" de que não me esqueço e que nunca falha, assim como a justiça divina (seja lá quem o divino seja).
Mas sim, agora dou a mão à palmatória: não custa baixar a guarda e assumir os erros, pedir desculpa, ser humilde. É das qualidades que mais estão em extinção, que cada vez falta mais. E isso doi-me.
Enjoy the Ride disse…
é verdade o que dizes, Ana. também acredito que aquilo que semeamos à nossa volta nos é devolvido.
todos nós, em algum momento da vida, magoámos alguém, ainda que inadvertidamente. surpreendeu-me foi esta capacidade de reconhecer que a vida está atenta e nos dá de volta o que damos aos outros. se toda a gente tivesse este dom, o mundo seria um lugar muito melhor. :)