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mas depois houve um momento durante a madrugada - não sei precisar bem quando - em que todos nos apercebemos da sorte que tínhamos em estar ali: não corríamos perigo, as nossas famílias e casas também não e o maior dos nossos problemas era não estarmos no sofá, a desfrutar de uma série. o mesmo não podiam dizer as centenas de pessoas por quem ali estávamos, a informar e a servir de companhia. quando tudo falha, quando as comunicações são inexistentes, um pequeno rádio a pilhas pode salvar vidas. e salva.
ligar o rádio e saber que aquela voz tem informações vitais, quer seja sobre as estradas cortadas ou os locais que estão a ser evacuados, que relembra tudo o que é essencial levar em caso de fuga súbita ao fogo [documentos de identificação e um kit de evacuação, com a medicação habitual, água e comida para algumas horas, produtos de higiene pessoal, um rádio, uma lanterna e um apito - informação veiculada pela Autoridade Nacional de Proteção Civil], que vai dando atualizações permanentes do estado da meteorologia e dos incêndios... tudo isso é de tamanha responsabilidade, que nós, fechados num estúdio de rádio, só temos (felizmente) uma vaga ideia. para quem ouve, aquele sentimento de pertença, de que alguém, mesmo à distância, está a olhar por nós e nos ampara não tem certamente comparação, sobretudo numa situação de calamidade como a que se vive em Monchique desde sexta feira. o poder da palavra é extraordinário. e em momentos como este, apesar de longe do nosso sofá e do descanso de um domingo à noite, é que temos dele real consciência.
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