ser ou não ser (piegas)

há muito tempo que não me lembro de me sentir assim: esquisita. esquisita como se me faltasse alguma coisa, como se me tivessem arrancado uma parte de mim. não sei bem o que é, mas desconfio. uma ansiedade permanente, que me ocupa o peito desde que acordo e só sossega depois de adormecer. eu, que não sou dada a grandes manifestações de carinho, dou por mim a achar que um abraço, daqueles em que, apesar do silêncio, se diz tanto, é a cura para os meus males. a ser verdade que os abraços diminuem os níveis de stress, eu podia encomendar já uma caixa, está bom de ver que um abraço é bem mais agradável do que uma caixa de comprimidos, xarope para a tosse ou pingos para o nariz. andei aqui anos e anos a ser e agora, que me dava tanto jeito não o ser, nem sei bem como se (des)faz. dou por mim com um nó na garganta a ver uma cena mais emotiva num filme e não percebo como me foi aquilo acontecer. ouço uma música, que me lembra algum momento em particular, e não consigo evitar uma lágrima. por vezes, tenho a sensação de que hibernei e, ao acordar, já não era eu. ou era, mas numa versão alternativa, em que a mínima coisa me desperta emoções que desconhecia (ou reprimia?). tenho esperança de que isto passe com um abraço. como num passe de magia, em que volto a ser eu, de armadura posta e pronta a enfrentar o mundo, sem deixar que ele me afete. só espero não ter tantas coisas reprimidas, que um destes dias me transforme numa pessoa chata e mimada, (ainda mais) difícil de aturar.

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